Desde o início que dirijo o meu interesse para o corpo em si, como “expressão”, materializado ou em forma de modelação plástica, num percurso que me parece agora vindo do mais elaborado para o mais elementar. A Escola de Belas Artes proporcionou-me ainda, na fase inicial do curso, o estudo de modelo tradicional, na sua vertente plástica e espacial. O meu interesse da altura centrava-se numa linguagem pura dos volumes, concretizados no barro. O estudo de desenho, mais ou menos esforçado, constituía-se no meu caso, como um suplemento para a escultura. A claridade dos volumes, a harmonia natural das poses, o apontamento inacabado que a técnica do desenho permitem, ajudavam na busca e reflexão estética, mas também na investigação do processo de representação. No desenho, é-nos concedível obter a substância vital do movimento linear. Ambicionava um processar harmónico que hoje é determinante para uma das vertentes da investigação plástica que venho ensaiando. É pela expressividade e dinâmica do traço que agora chamo à atenção para a importância vital do movimento, num exercício conjugado de consciência e sentido de composição em que não é displicente a integração da vertente do sensível. Na presente mostra procuro abordar o desenhado, ora inciso na superfície, ora idealizado no espaço, de modo a privilegiar a relação primordial – espaço/ superfície. Assim procuro a ilusão do perspectivismo e a modelação plástica, quer dizer, a representação ilustrativa tridimensional, num espaço concreto ou aparente. É dentro desta depuração que a forma linear terá de sugerir tanto os volumes como os espaços e, certamente que o tema do corpo humano abre azo a que essa tarefa se cumpra. Helder Carvalho